Redigido por João Aleixo Montes
Revisão por Laura Cariolin
O conceito de economia circular tem ganhado cada vez mais visibilidade, especialmente por sua ligação com os princípios de sustentabilidade ESG (Ambiental, Social e Governança). A economia circular é uma abordagem eficaz para alcançar vários Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) estabelecidos pela ONU, sendo o principal deles o ODS 12, que trata de “Consumo e Produção Sustentáveis” (ONU, 2023).
A economia circular busca transformar a maneira como os recursos são utilizados na produção, consumo e descarte. Historicamente, a produção e o consumo seguiram um modelo linear de extração, produção e descarte. Desde os primórdios da humanidade, tribos nômades de caçadores-coletores, como os Homo sapiens e os Neanderthalensis, caçavam mamutes e aproveitavam ao máximo seus recursos: ossos e marfim para ferramentas, carne para alimentação e peles para roupas e armaduras. Ferramentas quebradas, roupas rasgadas e restos de alimentos eram descartados (GRAEBER et al., 2021).
Esse modelo de consumo se consolidou como padrão para a sobrevivência humana. Ao longo das eras, a humanidade continuou a focar na extração, produção e descarte. Contudo, uma mudança significativa ocorreu no final do século XVIII com a Revolução Industrial. A industrialização possibilitou o consumo em massa, alterando o foco para a substituição e o descarte de bens danificados em vez de seu reaproveitamento. Esse novo ciclo acelerado resultou em um aumento exponencial na geração de lixo e estabeleceu uma cultura de consumo desenfreado na sociedade moderna (WEIGHTMAN, 2007).
Para ilustrar, o Banco Mundial estima que o mundo gera cerca de 2,01 bilhões de toneladas de resíduos sólidos anualmente, número que pode alcançar 3,4 bilhões de toneladas até 2050 devido ao crescimento populacional e ao aumento do consumo (KAZA et al., 2018). Além disso, nas últimas quatro décadas, a produção de plástico foi maior do que toda a produção anterior até os anos 1970. Resíduos eletrônicos atingiram 53,6 milhões de toneladas em 2019 e são projetados para chegar a 74,7 milhões de toneladas até 2030 (FORTI et al., 2020).
O modelo de economia circular propõe uma ruptura com essa prática linear. Ele incentiva o reaproveitamento, a reciclagem e o design de produtos para durabilidade e reparo, buscando minimizar o impacto ambiental e criar uma economia mais sustentável. Essa abordagem visa não só reduzir o consumo excessivo, mas também diminuir significativamente o volume de resíduos gerados, promovendo um ciclo de produção mais responsável e menos prejudicial ao meio ambiente. No entanto, atualmente, apenas cerca de 20% dos resíduos globais são reciclados, enquanto o restante é destinado a aterros sanitários ou incinerado, práticas que liberam gases de efeito estufa e contaminam o solo e a água (KAZA et al., 2018).
Diversos projetos têm sido desenvolvidos para aprimorar a gestão de resíduos dentro da economia circular. A Europa destaca-se como líder nesse campo. Entre os projetos de maior impacto estão a Plataforma Europeia de Economia Circular (European Circular Economy Stakeholder Platform – ECESP), que conta com a participação de todos os Estados-membros da UE, e o Sistema de Retorno de Depósitos para Embalagens (Deposit Return Systems – DRS), adotado em países como Alemanha, Noruega e Suécia para incentivar a reciclagem de embalagens de bebidas. O Programa de Reciclagem de Resíduos Eletrônicos (E-Waste Recycling Programs) também se destaca em países como Holanda, Bélgica, Suécia e França, promovendo o descarte responsável e a reciclagem de eletrônicos (Ellen MacArthur Foundation, 2020).
Outros projetos relevantes incluem o IOTA 2 e o IF CEED, ligados ao setor de defesa na Europa, especialmente após a invasão russa da Ucrânia. Esses dois projetos merecem uma análise mais aprofundada devido às inovações que trazem para esse setor estratégico.